Abutres da Oi querem a separação estrutural

jun 23, 2020 by

Na semana passada o atual presidente da Oi, Rodrigo Abreu, expôs o intitulado “Plano Estratégico de Transformação” da Oi.  Foi muito ufanista com o projeto de separação estrutural da empresa.

Só que não comungamos com esse ufanismo por diversas razões:

1) Até o final de 2017 a Oi tinha uma dívida de cerca de R$ 42 bilhões com os credores privados. Essa dívida foi quase toda transformada em controle acionário por seis grupos de credores/especuladores de fundos americanos – fundos abutres. Dessa forma, no primeiro trimestre de 2018 a empresa tinha uma dívida líquida de cerca de R$ 7 bilhões.

2) Os atuais donos/especuladores norte-americanos (GoldenTree, York Global, Brokfield, Solus) são os fundos abutres constituídos por especuladores especializados em comprar ativos de alto risco visando altos retornos. Atuam na compra de títulos de dívidas de devedores quase inadimplentes ou de ações de empresas perto da falência.

3) Esses fundos abutres conseguiram aumentar a dívida da empresa de R$ 7 bilhões no primeiro trimestre de 2018, para R$ 18 bilhões em dezembro de 2019. Isso sem falar da dívida junto à Anatel.

4) No início de 2019 a empresa apresentou um plano em que previa estabilizar sua receita em 2019 e voltar a crescer em 2021. Nada disso ocorreu. Houve queda em todos os segmentos no primeiro trimestre de 2020.

5) O Conselho de Administração, ao contrário do afirmado por Rodrigo Abreu, é composto por representantes desses grupos. Querem recuperar suas aplicações rapidamente, mesmo que isso represente a destruição da empresa.

 6) A Oi, desde a privatização, tem dado péssimos exemplos de administração. Uma combinação de incompetência e interesses distantes do que deseja a sociedade e os trabalhadores da empresa.

7) Especulam com as ações da empresa na Bolsa de Valores. Especulam com a vida de milhares de empregados – mais de 1000 trabalhadores da Serede foram demitidos e já começaram a demitir os trabalhadores diretos–, e especulam com a sociedade – a qualidade dos serviços da Oi deixa muito a desejar.

8) A Oi está em recuperação judicial desde 29 de junho de 2016. São quase 4 anos. Já está mais do que provada a incompetência dos antigos e dos  atuais donos da Oi de retirá-la do buraco econômico e financeiro.

9) Na exposição, Rodrigo Abreu afirma que a empresa sairá da recuperação judicial quando vender a parte móvel. Estranho. Ele mesmo afirma que a móvel dá lucro e é um sucesso. A móvel representou cerca de 45% da receita da operadora no primeiro trimestre de 2020.

O esfacelamento da Oi não interessa à sociedade. Serão mais demissões, piora da qualidade do serviço e concentração do mercado. Da Anatel, que deveria analisar com isenção esse processo, não podemos esperar nada. A Assembleia Geral de Credores já parece carta marcada.  Restará ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que, teoricamente, tem “como missão zelar pela livre concorrência no mercado investigar e decidir, em última instância, sobre a matéria concorrencial, como também fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência”, dar a última palavra.

Instituto Telecom, Terça-feira, 23 de junho de 2020

 

 

Artigos relacionados

Tags

Compartilhe

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *