Os abutres, os bens e o debate público

ago 11, 2020 by

A cada semana o leilão que vai definir o novo dono da Oi móvel ganha contornos diferentes. Numa semana, o chamado acordo de exclusividade de compra era com a Highline, controlada pela americana Digital Colony (Colônia Digital). Agora, são os italianos da TIM, os mexicanos da Claro e os espanhóis da Vivo que possuem a exclusividade.

Os  fundos abutres (GoldenTree, York Global, Brokfield, Solus) transformaram a empresa num triste  joguete. São especuladores norte-americanos especializados em comprar ativos de alto risco visando lucrativos retornos. É essa a perspectiva que dirige esse processo. Preocupação com a concentração do mercado, a qualidade e os trabalhadores do grupo Oi/Serede não existe.

Está no horizonte desses abutres vender tudo – a parte móvel,  torres, data centers e, até de 25% a 51% da tal empresa de infraestrutura, InfraCo. Vale também demitir em massa, tanto na Oi quanto na subsidiária Serede. Nesta última, todos os dias são demitidos centenas de trabalhadores.

A Highline estaria voltando o seu foco para a InfraCo e para a compra das torres. Assim, todo o mercado fica feliz: os que se tornarão donos da parte móvel e os que ficarão com a infraestrutura.

É o esfacelamento total de uma empresa estratégica.

Não há como pensar em política pública de telecomunicações, inclusão digital, trabalho remoto, telemedicina, entretenimento sem discutir a utilização da infraestrutura da Oi. Ela está em 26 dos 27 estados da Federação. Então, essa venda não pode ser um negócio que interesse exclusivamente aos abutres. Tem que haver contrapartidas claras para a massificação/ universalização da banda larga no Brasil. A pandemia tem demonstrado a importância estratégica das telecomunicações, em particular da banda larga.

Na semana passada, sete entidades da sociedade civil, entre elas o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o Intervozes e o Clube de Engenharia , com o  apoio do Instituto Telecom, entraram com uma Ação Civil Pública com um pedido de liminar. O objetivo, explica a advogada Flávia Lefèvere, é fazer com que a União Federal e a Anatel “calculem os bens reversíveis com base nas determinações do Tribunal de Contas da União (TCU) e de da Justiça Federal, para que se considere tudo o que foi ou não foi vendido desde o início da concessão em 1998 até agora”.

Uma das mais beneficiadas com o Decreto 10.402, razão da Ação Civil Pública, seria a Oi, leia-se seus donos abutres, que ganhariam de presente um patrimônio público calculado em bilhões de reais que engordariam os cofres privados.

Esse quadro será o tema da live do Sindicato dos Engenheiros nessa quarta, dia 12/8, às 17h30. Transmissão ao vivo no facebook e Youtube do Senge-RJ.

Instituto Telecom, terça-feira, 11 de agosto de 2020

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  1. Brigido Ramos

    Gostei muito, é apura verdade.

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