Venda da Oi móvel só interessa ao mercado

mar 17, 2020 by

Quando ocorreu a privatização do setor de telecomunicações no Brasil, em 1998, havia uma certeza dos que defendiam o novo modelo: a competição aumentaria e alavancaria a qualidade e a universalização do serviço. Não foi o que ocorreu.

Há cada vez menos competição no setor, que segue com baixa qualidade dos serviços, oligopolizado e muito distante da universalização.

O exemplo mais recente é o processo de esfacelamento da Oi e o interesse das outras três (Claro, Vivo e TIM) em tomar posse da parte móvel da operadora.

A Oi, desde a privatização, tem dado péssimos exemplos de administração. Uma combinação de incompetência e interesses distantes do que deseja a sociedade. No caso mais recente, os atuais donos/especuladores norte-americanos (GoldenTree, York Global, Brokfield, Solus) conseguiram aumentar a dívida da empresa de R$ 7 bilhões para R$ 15 bilhões em cerca de um ano.

E quais as soluções dadas por esses grupos?

1) Demitir trabalhadores. Foram cerca de 1000 na Serede (empresa do grupo Oi). Agora apontam para a demissão de milhares de trabalhadores diretos na Oi.

2) Vender a parte móvel da operadora.  Vivo, TIM e Oi têm 73% do mercado de telefonia celular. A Claro também quer participar dessa festa. Sociedade? Trabalhadores? Não estão no radar deles. Só enxergam o lucro desmedido.

O presidente da Anatel, que deveria zelar pelo interesse público, ainda tem a cara de pau de dizer: “Hoje o mercado brasileiro tem dos maiores graus de competição do mundo e queremos que isso seja preservado. Não vamos permitir nenhuma situação que leve a um duopólio”. A mesma Anatel que fez uma cartilha defendendo a entrega dos bens reversíveis para as operadoras e, cada vez mais, se torna uma porta-voz dos interesses do mercado.

O esfacelamento da Oi não interessa à sociedade. Serão mais demissões, piora da qualidade do serviço e concentração do mercado. Da Anatel, que deveria analisar com isenção esse processo, não podemos esperar nada. Cabe ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que, teoricamente, tem “como missão zelar pela livre concorrência no mercado investigar e decidir, em última instância, sobre a matéria concorrencial, como também fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência”, dar a última palavra.

Se não houver pressão da sociedade a Oi móvel passará a fazer parte dos grupos Claro, TIM e Vivo com todas as consequências para a qualidade, os preços e os trabalhadores.

Instituto Telecom, Terça-feira, 17 de março de 2020

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