A Maga Patalógica de Trump e das Big Techs
É bem provável que a maioria dos leitores não saiba quem foi Maga Patalógica. Nos anos 1960, nos quadrinhos de Carl Barks, ela era a bruxa que constantemente tentava roubar a Moeda Número 1 do Tio Patinhas. Moeda que, segundo ela, teria um poder especial para conduzi-la à mesma riqueza fabulosa do velho pato milionário.
Hoje, o nome “MAGA” aparece em outro contexto. Trata-se do slogan Make America Great Again (“Tornar a América Grande de Novo”), criado por Donald Trump e transformado em movimento político, econômico, cultural e ideológico. É também a bandeira de seus apoiadores: um movimento reacionário, excludente e profundamente conservador.
Trump sabe bem o que representa: um capitalismo expansionista, que encontrou nas plataformas digitais e na inteligência artificial seus principais impulsionadores e aliados.
Como assim?
A professora Shoshana Zuboff, de Harvard, explica em seu livro “A Era do Capitalismo de Vigilância”:
“O capitalismo de vigilância é uma mutação do capitalismo da informação, que nos coloca diante de um desafio civilizacional. As Big Techs, seguidas por outras firmas, laboratórios e governos, usam tecnologias da informação e comunicação (TIC) para expropriar a experiência humana, que se torna matéria-prima processada e mercantilizada como dados comportamentais. O usuário cede gratuitamente as suas informações ao concordar com termos de uso, utilizar serviços gratuitos ou, simplesmente, circular em espaços onde as máquinas estão presentes.”
Esse diagnóstico ajuda a entender o sentido da carta enviada por Trump a Lula, quando o presidente norte-americano criticou o aumento da tributação sobre big techs no Brasil. Trump mencionou a “violação fundamental da liberdade de expressão dos norte-americanos”, citando as decisões recentes do Supremo Tribunal Federal que impuseram restrições e multas a plataformas digitais. Na prática, ele defendia a liberdade total das big techs e, junto com isso, o poder de controlar nossos dados coletivos e individuais.
Eis a grande questão: a guerra travada pelas big techs pelo controle dos nossos dados é, hoje, a verdadeira “moeda número 1”. Só que, ao contrário das aventuras da Maga Patalógica, não há feitiçaria alguma. O que existe é uma disputa global de poder, em que os nossos dados são o prêmio mais valioso.
Instituto Telecom, Terça-feira, 23 de setembro de 2025
Marcello Miranda, especialista em Telecom