Mentes manipuladas

ago 8, 2023 by

A sociedade capitalista, sociedade de consumo, do espetáculo, da informação na qual vivemos, coloca o ter em um ponto muito mais elevado do que o próprio ser.

Nos debates travados sobre o PL 2630 – que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na internet – tentamos demonstrar que, entre outros aspectos, as chamadas big techs reforçam a construção de uma sociedade excludente, que não respeita as visões individuais sobre o mundo em que vivemos, que desrespeita a garantia dos direitos de personalidade, da dignidade, da honra e da privacidade do indivíduo.
As big techs (Apple, Amazon, Microsoft, Alphabet (Google) e Facebook) manipulam informações e decidem o que pode e o que não pode circular na internet. Modelam, a partir de algoritmos, nossas personalidades e nossos gostos. Coisas que não precisamos nos são dirigidas para serem adquiridas.

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa no seu livro “Mentes Ansiosas – o medo e a ansiedade nossos de cada dia” não trata, obviamente, do PL 2630, mas acentua algumas características da sociedade que está sendo forjada:

1) “Nas sociedades em que a economia de mercado dita os valores dos indivíduos (…) o senso comum prioriza o ter no momento de estabelecer suas regras e seus valores”.
2) “A autoestima tem a ver com o ser, e não com o ter. Apenas o equilíbrio entre o ser e o fazer em um indivíduo possibilitará que ele tenha uma autoestima verdadeira e uma profissão ou ofício que de fato o faça feliz, seguro e produtivo”.
3) “Por um lado os seres humanos nunca tiveram tanto acesso a bens materiais quanto hoje. Por outro lado, nunca houve tantas pessoas insatisfeitas, ansiosas e compulsivas por comida, compras, drogas, jogos, sexo, redes sociais, internet etc.”
4) “A cultura consumista e individualista está tão enraizada em nosso comportamento diário que, na maioria das vezes, não percebemos o quanto vivemos sob a ditadura do ter.”
Na sociedade brasileira se convive com uma exclusão extrema na qual a maior parte não tem acesso a questões básicas da cidadania: água e esgoto tratado, escola pública e saúde de qualidade, banda larga.

No entanto, todos os segmentos estão submetidos, em maior ou menor grau, a “uma ansiosa busca por importância e aprovação social em uma sociedade que pouco se importa com o que de fato as pessoas são ou sentem.”

O projeto de lei 2630 estabelece direitos dos cidadãos e obrigações nas redes sociais, apps de mensagem e mecanismos de busca para proteger a sociedade de abusos, esclarece a Coalizão Direitos na Rede. A aprovação do PL passa também por combatermos o poder que, nesse momento, têm as big techs: manipular as mentes e os corações, a partir de algoritmos pouco transparentes, na construção de uma sociedade cada vez mais desigual e doente.

Instituto Telecom, Terça-feira, 8 de agosto de 2023
Marcello Miranda, Especialista em Telecom

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