Banda Larga Para Todos pode custar quatro anos de Fistel ao Tesouro

ago 13, 2015 by

Banda Larga Para Todos pode custar quatro anos de Fistel ao Tesouro

Sem recursos para bancar os R$ 50 bilhões estimados para a principal promessa da presidenta Dilma Rousseff no campo da inclusão digital, o Ministério das Comunicações costurou um plano de incentivos para induzir as operadoras a levarem fibras ópticas a 90% dos municípios e 45% dos lares brasileiros em troca de um alívio fiscal que pode chegar a R$ 20 bilhões.

A conta, porém, segue salgada para tempos de ajuste fiscal e não é por menos que o Banda Larga Para Todos, inicialmente prometido para abril, foi deixado para depois da definição dos cortes do orçamento, em fins de maio, e agora não tem data para ser apresentado. Até aqui, o plano se escora em oferecer créditos tributários às teles, a serem abatidos da principal taxa do setor, o Fistel.

A ideia é fazer leilões reversos onde leva o crédito tributário a operadora que aceitar ficar com o menor benefício fiscal. Esse valor seria então abatido do pagamento anual devido ao Fundo de Fiscalização das Telecomunicações ao longo dos alguns anos – o plano vai até 2019 e por enquanto parte da premissa de que esses leilões aconteceriam ainda em 2015.

“A questão é cobrir a diferença em projetos que têm VPL [valor presente líquido] negativo. A vantagem é que o crédito tributário será pago quando a obra estiver feita, em dois anos. O impacto orçamentário, portanto, é mais para frente”, defendeu o secretário de Telecomunicações, Maximiliano Martinhão, a parlamentares da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, na terça, 11/8.

Sem dúvida é um charme adicional a um plano que não prevê desembolsos diretos. Ainda assim, implica em o Tesouro abrir mão de praticamente toda a arrecadação do Fistel no futuro próximo – a título de comparação, foram recolhidos R$ 25 bilhões entre 2011 e 2014, sendo que no ano passado o valor foi fortemente turbinado pelo leilão dos 700 MHz.

Se essa conta não bastasse para a equipe econômica segurar a principal promessa de Dilma Rousseff no campo da inclusão digital, o Minicom ainda tenta desarmar o “fogo amigo” que vem da Anatel: conselheiros como Marcelo Bechara e Igor de Freitas duvidam abertamente das metas de levar fibra a 45% dos lares e a velocidade média das conexões a 25 Mbps.

“Pela banda larga móvel não tem condições de crescer muito a velocidade por conta das condições do serviço. Temos que trabalhar na banda larga fixa para vencer a carência de fibra óptica que existe no país. Se a fibra óptica estiver a 400 metros de uma residência, a gente consegue chegar com velocidades da ordem de 50 Mbps na casa da pessoa”, insistiu Martinhão junto aos deputados.

E como a responder diretamente às críticas, o secretário ainda desfiou que “o que existe de meta é chegar com velocidade média 25 Mbps. Média não quer dizer que todos terão. Alguns terão 10, outros 100 Mbps”, frisou Martinhão, embora reconheça que “hoje, menos de 10% dos domicílios brasileiros tem fibra óptica chegando perto da casa”.

O plano privilegia as redes de fibra nos grandes centros e nas cidades com mais de 100 mil habitantes para que seja atingida a meta de chegar a 45% dos domicílios do país. Paralelamente, seriam implantados backhaul em fibra em 90% dos municípios – sendo que hoje apenas 47% deles contam com essa infraestrutura.

Faz até sentido que diante das dificuldades, o Ministério das Comunicações faça também um aceno para os governadores, de olho em algum quinhão de recursos que possa vir dos estados. “Por enquanto a gente esta pensando só no Fistel. Não temos competência sobre o ICMS, mas se os estados entrarem como parceiros, podem ser priorizados”, disse Martinhão.

Luís Osvaldo Grossmann, Convergência Digital, Quarta-feira, 12 de Agosto de 2015

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