Oi, vinte anos de especulação

jul 17, 2018 by

No dia 29 de julho completam-se vinte anos da privatização do setor de telecomunicações. De que forma “comemorar” esse aniversário? Escolhemos analisar a situação da Oi durante essas duas décadas. Um período difícil para os trabalhadores e para a sociedade.

Em 1998, durante o processo de montagem do leilão do Sistema Telebrás, o governo FHC criou um grupo para não ganhar a concessão de uma região que englobava 16 estados do Brasil. Ocorre que esse grupo acabou ganhando. E os recursos que sustentaram essa compra vieram, basicamente, dos cofres públicos. Os primeiros passos da Telemar, hoje Oi, começavam, assim, de forma errática.

Dez anos depois, outra aventura. Mesmo sem um centavo para investimentos mais arrojados, a Oi assumiu o controle da Brasil Telecom. Seus dirigentes falavam numa grande tele nacional que investiria em pesquisa e na compra de equipamentos nacionais. Nada disso ocorreu.

Em 2010 foi a vez da malfadada parceria com a Portugal Telecom. O discursos agora era de que, a partir da expertise da operadora portuguesa, seria implementada fibra ótica na última milha. E mais: a empresa iria se inserir no cenário internacional expandindo sua ação para os países africanos. Fracasso total.

Um ano emblemático foi 2016. Com uma dívida de cerca de R$ 65 bilhões a empresa entrou em recuperação judicial. Em 2017, para sair do buraco, a Oi buscou desesperadamente aprovar o PLC 79, que lhe garantiria a doação de boa parte dos bens reversíveis. Esse plano lesa pátria até hoje não foi aprovado.

Mas, em 2018, ocorreu uma mágica. Boa parte da dívida sumiu. O que era dívida converte-se, principalmente, em participação acionária dos grandes credores. E quem são esses? Fundos de investimentos americanos: Golden Tree, York, Solus, Canyon e Brokfield. A Pharol, portuguesa, também participa da festa acionária com cerca de 7,4% das ações, equivalente aos outros “sócios”. Especulação pura.

E os chineses? Tudo indica que estão correndo por fora e esperando uma boa negociação com os atuais “donos” para abocanharem a principal empresa de telecomunicações do país. Presente em 26 dos 27 estados da federação, a Oi acumulou de 2015 a 2017 uma receita líquida de R$ 75,18 bilhões e um EBITDA (grosso modo- lucro) de R$ 20,45 bilhões. Tudo errado.

Há ausência de uma política pública que pudesse resultar, efetivamente, nom fortalecimento de uma empresa nacional que respeitasse seus mais de 100 mil trabalhadores diretos e indiretos. Que desse prioridade aos interesses dos usuários e democratizasse a sua gestão. À União caberia reforçar as obrigações de metas de qualidade, universalização e tarifas módicas para a banda larga. Esses são caminhos que deveriam ser buscados. Lamentavelmente, parece que serão, mais uma vez, deixados à margem.

Os especuladores financeiros americanos, portugueses e chineses agradecem.

Instituto Telecom, Terça-feira, 17 de julho de 2018

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