Provocação digital

jul 5, 2022 by

O vice-presidente institucional da TIM, Mario Girasole, em evento organizado pela Telebrasil fez a seguinte afirmação – “Vou ser provocativo: não acredito que o Brasil viva no abismo digital”.

É muito estranho que um alto executivo de uma grande operadora não perceba que vivemos, sim, numa grande desigualdade digital e que os principais responsáveis são a Anatel, o (des)governo federal e as grandes operadoras.

O discurso dos representantes do mercado foi sempre de que o próprio mercado, a tal mão invisível, alocaria os recursos de forma eficiente e eficaz. Dessa forma obteríamos a massificação dos serviços. Era o tripé da privatização do setor das telecomunicações, ocorrida em 1998: competição trazendo qualidade e universalização. A realidade, no entanto, é que não existe competição. O que há é concentração do mercado, preços exorbitantes, qualidade sofrível, um abismo digital clamoroso. Só as operadoras, principalmente Oi, Vivo, Claro, TIM fingem não ver.

Vamos repetir um milhão de vezes: a culpa das escolas públicas urbanas não terem acesso à banda é das grandes operadoras. Desde 2010, os contratos de concessão obrigam as operadoras Oi, Vivo e Claro a levar banda larga de qualidade, gratuitamente, a todas as escolas públicas urbanas. E o Executivo não cobra da Anatel a fiscalização dessa obrigação que as operadoras não cumprem.

O vazio digital é fato. A própria Unesco, em relatório recente, destaca que o Brasil é um país que luta com desigualdades extremas, inclusive em termos de ligação de internet de banda larga, com 70% do acesso agrupado em cinco grandes áreas urbanas.

Abismo digital é a realidade. Apesar de 81% da população brasileira, segundo a análise da PwC realizada em conjunto com o Instituto Locomotiva, usarem a internet, apenas 20% têm acesso de qualidade – 60% das classes D/E estão totalmente desconectados.

Pobreza, exclusão social e digital são a regra. O número de brasileiros plenamente conectados é de 49,4 milhões concentrados nas regiões Sul e Sudeste, brancos, com celular pós-pago, acesso por notebook, escolarizados, classes A e B. Já os 41,8 milhões de brasileiros subconectados estão nas regiões Norte e Nordeste, são negros, usam celular pré-pago, são menos escolarizados e pertencem às classes D e E. Chega de exclusão digital.
E insistimos. A mais recente pesquisa realizada pelo CGI-Br “TIC domicílios 2021″ mostra que os mais pobres estão excluídos digitalmente, sem computador, sem internet.

Será que o senhor Mário Girasole desconhece todos esses dados que demonstram o buraco digital no qual está a maior parte da população brasileira? Óbvio que não. Esperamos que a provocação dele tenha servido ao menos para trazer mais destaque para a situação gravíssima de ampla exclusão e abismo digitais em que a população brasileira vive.

Instituto Telecom, Terça-feira, 5 de julho de 2022

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  1. É a Tim, a empresa que deixa cabos largados pelas ruas na cidade do Rio de Janeiro, um dia capital federal, a Tim que o sinal é de pessima qualidade, a Tim que gasta milhões em propaganda, publicidade bem paga, e deixa restos de cabos de pares pela Cidade Maravilhosa,a Tim não conseguiu sequer passar os cabos pelo duto até a minha residência, mas eu consegui. A Tim, OI,CLARO,VIVO precisa limpar a cidade dos restos de cabos antigos, e conectar com esse capital o nosso povo com o serviço publico que eles furtaram em 1998.

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