Nossa Opinião – Sejamos Emília

jun 13, 2017 by

Nos dois últimos anos cresceu no Brasil o discurso de que as reformas trabalhista e previdenciária são essenciais para que o crescimento do país. Discurso falacioso, mas, de tanto ser repetido, há quem acredite que seja verdadeiro.

No julgamento da chapa Dilma-Temer, pelo Tribunal Superior Eleitoral, o hoje execrado ministro Gilmar Mendes se valeu de uma história de Monteiro Lobato para dizer que o TSE “não deve ser o espaço de solução para crise política do país (…) não sejamos Américos Pisca Pisca”. Personagem da fábula “Reformador do mundo”, Américo propunha várias mudanças nas imperfeições da natureza, mas termina se resignando e convencido a “deixar as coisas como estão”.

Ao citar Monteiro Lobato, mesmo não querendo o ministro Gilmar Mendes trouxe para o debate o contraponto ao planejamento das nossas elites dominantes. Dizia Lobato: “a nossa ordem social é um enorme canteiro em que as classes privilegiadas são as flores e a imensa massa da maioria é apenas o esterco que engorda essas flores. Esterco doloroso e gemebundo. Nasci na classe privilegiada e nela vivi até hoje, mas o que vi da miséria silenciosa nos campos e nas cidades me força a repudiar uma ordem social que está contente com isso e arma-se até com armas celestes contra qualquer mudança.”

Gilmar é um legítimo representante de uma classe dominante oportunista, que se utiliza de qualquer subterfúgio para alcançar seus interesses. Os setores da elite capitalista que o atacam hoje são os mesmos que sempre o apoiaram em decisões anti-democráticas e contra os interesses da maioria da população.

Os mesmos setores elitistas que tem como um dos principais representantes a área das (tele)comunicações. A Globo, capitaneando uma mídia comprometida com o capital financeiro, e as operadoras de telecomunicações, que enquanto se discute o destino do país, alicerçam, junto com a Anatel, o caminho da entrega de recursos públicos (bens reversíveis, capacidade satelital, desonerações tributárias, troca de multas por termos de ajustamentos de conduta favoráveis à Oi e a Vivo). Tudo com a desculpa esfarrapada de que esse será o melhor caminho para que os investimentos aumentem. Universalizar a banda larga nunca esteve e não está entre os interesses da agência e das operadoras.

Na verdade deveríamos terminar a história do “Reformador do mundo” com a postura de outro personagem de Lobato, a boneca Emília. Esta rechaça a resignação de Américo Pisca Pisca e afirma que começaria reformando a própria fábula.

Nós, brasileiros, não vivemos numa fábula, ao contrário. Mas está mais do que na hora de rechaçar os acordos de uma elite que só pensa nos seus próprios interesses em detrimento da maioria da sociedade. Democratizar o nosso país passa por eleições diretas, pela universalização da banda larga.

Não aceitemos o fim da história como contado pela elite. Resistamos! Sejamos todos Emília!

Instituto Telecom, Terça-feira, 13 de junho de 2017

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