Oi, ativo tóxico

abr 4, 2017 by

Já se passaram nove meses desde que a Oi entrou na chamada “recuperação judicial”. Quase 300 dias desperdiçados. Nesse período, a dívida da empresa aumentou em cerca de R$ 4 bilhões. O prazo pode ser prorrogável, mas nada indica que leve à solução dos graves problemas da operadora.

Os representantes do mercado, incluindo grupos oportunistas ou abutres, têm feito propostas para a compra da Oi. São empresários russos, egípcios, banqueiros, todos com um só interesse: especular e ganhar muito dinheiro com a operação, da mesma forma que, desde 1998, os acionistas da Oi se comportam. O objetivo é exclusivamente o lucro. Não para empresa ou para aumentar o investimento na rede e na operação, mas para rechear seus próprios bolsos.

No campo empresarial – ou policial, depende como se interpreta a questão -, segundo o jornalista Lauro Jardim, Nelson Tanure, um dos conselheiros da Oi, teria pago R$ 13,2 milhões para que Rafael Mora, representante dos portugueses da Pharol renunciasse ao cargo na empresa.

Já na esfera pública, o governo golpista tenta emplacar a aprovação do PLC 79/2016 que viabilizaria o fim das concessões e presentearia os acionistas da Oi com cerca de R$ 80 bilhões. Dinheiro público oferecido graciosamente a entes privados.

Os usuários e os trabalhadores assistem aterrorizados a esse processo. Ninguém sabe quem afinal controla ou irá controlar a empresa – a Oi é responsável pelas telecomunicações brasileiras em 26 estados e, junto com a Vivo e a Claro, controla 80% da banda larga do país. Insumo fundamental para o desenvolvimento de qualquer país. Cada 10% de penetração da banda larga implica crescimento de 1% do produto interno bruto.

Os grandes credores da Oi rechaçaram, mais uma vez, a proposta em relação à dívida. Segundo eles, a proposta só beneficia os acionistas. Enquanto isso, o atual presidente da Oi afirma que as negociações continuam. Será mesmo? E em que bases?

E a Anatel? Na mais recente reunião do Conselho da Oi o preposto da agência disse: “a bem da continuidade do serviço público, caso necessário, a Anatel adotará as medidas legais e regulamentares cabíveis, independentemente de sua natureza ou extensão”. Alguém ainda acredita na Anatel?

Nós, do Instituto Telecom, sempre defendemos a Oi como estratégica em relação a disponibilizar os serviços de telecomunicações para a população brasileira. Mas, desde a privatização, em 1998, as suas direções só tomam decisões equivocadas. Comprar a Brasil Telecom sem ter dinheiro em caixa, e a parceria com a Portugal Telecom resultaram numa monstruosa dívida. Demitiram, apenas nos dois últimos anos, cerca de 3000 trabalhadores.

Assim sendo, o certo seria a intervenção na Oi. O problema é quem deveria realizar essa intervenção seria a Anatel. Como acreditar num processo que seria coordenado por essa agência? Desde que foi instalado o governo golpista temos visto o ataque às empresas públicas, aos trabalhadores, e o favorecimento ao capital privado, como forma de pagamento pelo apoio ao golpe. Resta saber se a afirmação da AT&T, a maior empresa de telecomunicações dos Estados Unidos, de que a Oi é um ativo tóxico irá, lamentavelmente, se confirmar.

Instituto Telecom, Terça-feira, 4 de abril de 2017

 

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